ANTÔNIO ROMANO Caluetê, 1840–1891, é o mesmo Romano da Mãe D’Água, porque nascera e residia no Saco da Mãe D’Água, no município de Teixeira, Paraíba. Era irmão do cangaceiro-cantador Veríssimo do Teixeira e pai de Josué Romano, cantador famosíssimo. Chamavam-no também de Romano do Teixeira, o Grande Romano. Foi o mais célebre cantador do seu tempo. Ficaram memoráveis nos fastos da cantoria o desafio e Romano com Manuel Carneiro, em Pindoba, Pernambuco, e o combate com Inácio da Catingueira, no mercado-público de Patos, Paraíba, e que durou oito dias, segundo Rodrigues de Carvalho. Faleceu a 1º de março de 1891, repentinamente, trabalhando no seu roçado num domingo. Num embate de Josué Romano com Manuel Serrador, o filho do cantador afamado assim apregoou as glórias paternas:
Eu me chamo Josué, Filho do Grande Romano, O cantador mais temido Que houve no gênero humano: Tinha a ciência da abelha, Tinha a força do oceano!...
Romano conhecia as ciências populares e delas tirava efeito seguro. Seus versos estão deturpados e dissolvidos nas gestas de outros cantadores. Raros serão os verdadeiros, entre os muitos apontados como autênticos pela tradição.
Um fato curioso de sua vida foi a visita que fez ao irmão Veríssimo na cadeia de Teixeira. Veríssimo era cangaceiro da quadrilha de Viriato. Condenado a sete anos de prisão, passou-os tocando viola e cantando desafio com ele mesmo. Romano foi visitá-lo e o comandante do destacamento, sertanejo autêntico, permitiu um encontro dos dois, de viola em punho, dentro da cadeia. E cantaram juntos, como se estivessem num pátio de fazenda, em noite de lua, sob aplausos.
INÁCIO DA CATINGUEIRA, negro escravo do fazendeiro Manuel Luiz, cantador lendário e citado orgulhosamente por todos os improvisadores do sertão. Seus dotes de espírito, a rapidez fulminante das respostas, a graças dos remoques, a fertilidade dos recursos poéticos, a espantosa resistêcia vocal, ficaram celebrados perpetuamente. Sendo negro e analfabeto não trepidou enfrentar os maiores cantadores do seu tempo, debatendo-se heroicamente e vencendo quase todos. Foi o único homem que conseguiu derrubar Romano da Mãe D’Água, depois de cantarem juntos oito dias em Patos, luta que é a página mais falada nos anais da cantoria sertaneja. O Grande Negro nasceu no dia de santo Inácio Loiola, 31 de julho, na fazenda e povoação de Catingueira, perto de Teixeira, Ribeira do Piancó, Paraiba, e faleceu aí, sexagenário, em fins de 1879.
(Extraído de CASCUDO, Luís da Câmara. Vaqueiros e Cantadores, p. 169, 170, 256-258)
Nenenzin Pereira.
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